Dizem por aí que eu conheço uma alma gêmea todo dia,
banalizando as coisas do amor. Do amor mesmo. Eu não separo amor. De amigo, de
irmão, de homem, de pai e mãe... Pra mim é tudo amor. E não é?
Voltando lá ao assunto da banalização do amor, da alma
gêmea, várias críticas sobre. É que eu enxergo as coisas boas. E logo me apego.
Mas, é difícil uma identificação profunda, coisa de dois em um milhão (um em um
milhão já seria forçar a barra). Então todo mundo diz que eu sou doida e vou permanecer
assim. E sozinha. Ora, ora...
Dois em um milhão. Dia desses conheci o número dois do um
milhão. O número um anda por aí, voando em terras desconhecidas. Um dia há de
voltar e me indicar as melhores bandas e os melhores livros. E há de me xingar,
me levar para um bom rock com uma boa cerveja e dizer pra eu trocar de time, que o dele é
melhor e blá blá blá. Novamente fuga do assunto. Perdi-me, era o número dois em
evidência, não o número um. Ah, o critério para dizer que um é o “um” e o outro
o “dois”? Ora, conheci o “um” primeiro, isso não basta?
Déjà vu: fuga do assunto. O importante é que eu conheci o
número dois. E nem convivi tanto. E nem convivo tanto. Não, ele não está voando
por aí também. Está bem perto, mas é esse perto que distancia. Uma década
separa a gente. E isso importa? Nem vejo. Tem uns abismos que aproximam. As diferenças
aproximam mais do que as semelhanças. É como um reflexo no espelho, a gente se
vê do lado contrário e enxerga tudo de forma diferente.
É alma gêmea. Eu tô falando de amor, caramba! Mas, é tão
diferente que ninguém entende e me chama de doida. Gente que entende vira alma
gêmea. E ganha as melhores conversas. Os melhores textos. As melhores músicas. E
o número dois. E a identificação, que equivale ao amor.
Lá pelas tantas vejo a história se repetir. De uma forma tão
igual que jamais imaginei viver. Agora ouço o que um dia falei. Vejo o que um
dia vivi. Penso, e antes de falar, já repensaram por mim. É a completa
identificação. Nem tão completa. Talvez só eu pense assim. No fundo, nem me
importo.
Tem um monte de gente aqui. Só os bons permaneceram. As
identificações são diferentes. São os que eu queria levar comigo para sempre. Mas
eu levo comigo para sempre, poxa! Se eu vou com eles, aí já não é comigo.
Dia desses, eu conheci o número dois. E parece que eu
conhecia há anos. Completou minha primeira frase e me apresentou música boa. Coloquei
logo na lista de alma gêmea. Não necessita explicação. É amor, caramba. Só que é diferente. Ninguém vai entender mesmo.
Como companheiros: um relógio, um celular e um computador. E
um quarto frio e cinza em um dia qualquer de abril. Lá fora grita o rock, mas
ela preferiu seu silêncio barulhento. Não quis encarar o mundo sozinha mais uma
vez.
As ideias pulam e nunca consegue organizá-las. Misturam-se a
sorrisos e lágrimas que encontrou na gaveta. Por que não jogou fora tudo isso?
Alguns livros, cadernos, fotos, anotações. A vida mesmo. Paralela
ao universo. Paralela a tudo que corre agora. Era sobre amores e amigos. Nunca separou
os dois. Ora, não é tudo a mesma coisa no fim das contas? Não se tratam os dois
de amor? Por que o amor não é a mais bela desordem?
Chocolate, vinho e aquela boa cerveja. Blues, a trilha
sonora daquele bom filme e Pearl Jam. Melhor jogar tudo isso fora, antes que
alguém resolva aparecer para buscar.
Não acreditou em tudo que leu e nunca disse. Não acreditou
que a vida passou tão rápida e ela não acompanhou as mudanças. Não acreditou
que tudo aquilo ainda tivesse importância.
Separou tudo. Ainda não era tempo de se desfazer do universo
paralelo. Organizou as coisas, nunca as ideias, e guardou um espaço para o que
estava por vir.
O barulho do relógio. O celular sem nenhuma chamada. O computador
desligado. E o quarto frio em um dia qualquer de abril. Lá fora, grita o
rock...