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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Sobre uma ideia (outubro 2014)




Quanta expressão distraidamente desperdiçada! – pensou e aquietou as ideias. Não merece mais do que isso, levemente arrependida de toda aquela expressão. Ou seria da distração?

 

Era bem mais que uma ideia, pousando devagar e todos os dias sob os lábios cor de carmim. E era perigoso alimentar bem mais que uma ideia. Mais uma vez, mentiu. Ignorou. Não por muito.

 

Idiota! – não sabia a quem dirigira a palavra. Os olhos fixos no espelho, ignorando. Doendo. Remoendo. Não era lá muito complicado, aliás, era bem mais simples do que muita coisa dantes vivida. De tão simples, tornou-se impossível!

 

Lá pelas tantas nem sabia mais qual era o motivo de tanta repressão. Aquietar as ideias sempre, antes que elas saiam do inconsciente, se tornem palavras e sigam livres para todo tipo de interpretação, exigindo dela, dos outros, explicações vagas a respeito de nada.

 

Ainda que fosse bem mais que uma ideia, era somente uma ideia. Só dela. Era concreta na memória e abstrata na vida. Não ocupava espaço. Não gerava problemas. Apenas aquela puta dor de estômago controlável. Remoendo o erro que jamais poderia se tornar acerto, por mais que ela, com aquela mania incansável de acreditar nas pessoas, considerasse possível.

 

Veja bem – um discurso inflamado pareceu-lhe viável para o momento. Desistiu. Afinal, desistiram antes dela. – Não vale mais que isso, lembrou. Pensando bem, vale sim. Era uma expressão distraída. Era dela. Não convinha a mais ninguém. Ignorou. Desistiu. Não por ela, mas por toda a dor de estômago possivelmente causada.