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segunda-feira, 17 de novembro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Sobre uma ideia (outubro 2014)
Quanta expressão distraidamente desperdiçada! – pensou e aquietou as ideias. Não merece mais do que isso, levemente arrependida de toda aquela expressão. Ou seria da distração?
Era bem mais que uma ideia, pousando devagar e todos os dias sob os lábios cor de carmim. E era perigoso alimentar bem mais que uma ideia. Mais uma vez, mentiu. Ignorou. Não por muito.
Idiota! – não sabia a quem dirigira a palavra. Os olhos fixos no espelho, ignorando. Doendo. Remoendo. Não era lá muito complicado, aliás, era bem mais simples do que muita coisa dantes vivida. De tão simples, tornou-se impossível!
Lá pelas tantas nem sabia mais qual era o motivo de tanta repressão. Aquietar as ideias sempre, antes que elas saiam do inconsciente, se tornem palavras e sigam livres para todo tipo de interpretação, exigindo dela, dos outros, explicações vagas a respeito de nada.
Ainda que fosse bem mais que uma ideia, era somente uma ideia. Só dela. Era concreta na memória e abstrata na vida. Não ocupava espaço. Não gerava problemas. Apenas aquela puta dor de estômago controlável. Remoendo o erro que jamais poderia se tornar acerto, por mais que ela, com aquela mania incansável de acreditar nas pessoas, considerasse possível.
Veja bem – um discurso inflamado pareceu-lhe viável para o momento. Desistiu. Afinal, desistiram antes dela. – Não vale mais que isso, lembrou. Pensando bem, vale sim. Era uma expressão distraída. Era dela. Não convinha a mais ninguém. Ignorou. Desistiu. Não por ela, mas por toda a dor de estômago possivelmente causada.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Efetivamente (maio 2014)
Preciso dormir para não gritar minhas verdades em seu
ouvido. É madrugada alta e as tais verdades insistem em assolar minhas dores. Meus
olhos. Minha boca. Minha respiração. Minha precipitação.
Eu sei que você está por aí e nem lembra que sussurrei um
pouco de mim para assustá-lo. Era o Chris Cornell ao fundo. Ele tá aqui ó, bem
aqui cantando para mim ainda. Maldito. Parei minhas lágrimas no momento exato. Você
não percebeu, mas as minhas mãos estavam trêmulas. Minha razão perdida no
espaço das palavras soltas. Eu nunca quis uma conversa assim. E daí se eu
gosto. Não posso? Sozinha? Ora essa... não parece.
Essas verdades, tão minhas e tão óbvias assustam todo mundo.
São tão óbvias que chegam a ser desacreditadas. Pagar o preço por elas é para
poucos. Se não pulsar a razão não vale. Se não questionar a realidade, não
serve. É paixão simplesmente por ser. Porque é forte e eu quero. O gosto fica
na boca. O cheiro no cabelo. A dúvida na memória.
Porque eu sei que você está por aí e nem se lembra do meu
beijo duvidoso na sua boca cheia de vontade. E nem se lembra do meu olhar
perdido entre o seu. E nem se lembra da minha verdade dita com tanto interesse.
E nem se lembra de acreditar. E nem se lembra de me querer ao seu lado. Ou me
dizer para trilhar outro caminho.
Minhas verdades, as tais que não me deixam dormir, talvez
não te interessem mais. E eu aqui, insistindo em gritá-las. Eu preciso que você
as ouça. E não as desacredite!
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Mero (abril 2014)
Sabe, eu queria muito acreditar que vai dar certo. Mas, não vai. Eu sei. Lá no início, sem enlouquecer, era tão fácil encontrar a verdade. E eu insisti na dúvida.
É, eu faria de você o meu melhor companheiro e te levaria pra todos os rocks do mundo. Sim, eu levaria. E nós cantaríamos, desafinados, Pearl Jam a noite toda. E sentaríamos em um banco qualquer e conversaríamos sobre nada. E eu gargalharia de todas as suas frases soltas sem efeito. E diria pra você escrever corretamente. E me encantaria com a sinceridade infiltrada no seu olhar.
Nós dividiríamos, tranquilos, aquela boa cerveja. E aquele bom chocolate.
E eu respiraria fundo pra te ter aqui, bem aqui, só pra te acordar de manhã e ouvir você dizer que já estava acordado. E escutar sua voz rouca e suave reclamando do meu silêncio. Mirar meus olhos verdes nos seus olhos verdes e dizer que os meus são sim seus.
E estaria bem perto da sua boca. O beijo ou o sorriso? É que são os dois tão perfeitos!
Eu me apaixonaria. Sem medo. E eu gostaria tanto, tanto que seria amor.
Mas, é que o futuro não pertence ao passado. E o passado não pertence ao futuro.
Sabe, eu acredito muito que vai dar certo. Mas, essa certeza... ah, ela me corrói!
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Liberdade (janeiro 2014)
É que eu nunca quis prender ninguém aqui.
- Mas, você não se importa?
- E pra me importar preciso prender?
É que companhia demasiada sufoca. A falta também. O equilíbrio para não enlouquecer e revirar a vida do avesso.
O por do sol. A banda nova. O chocolate e o riso. A cerveja. A novidade pequena. O abraço inesperado. O beijo e o sorriso.
O contrato, não. O atrito, sim. A cumplicidade sem regras. O compromisso sem obrigação.
A tal da liberdade, sabe?
- Isso não é possível! - gritaram. E lá pelas tantas julgo que sou utópica.
- Se a liberdade é assim tão boa, por que ainda continuo na falta de companhia?
Ora, é que a liberdade pura, assusta. Ninguém quer experimentá-la. É bonita lá, nas obras existencialistas, não na realidade.
Dividir a vida do avesso não é invadir o espaço. Ser um não me agrada. Onde fica a diversidade de ser dois?
- Hei, você não se importa.
- Não quero prender ninguém aqui. Dois caminhos diferentes levam a um mesmo lugar.
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