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sábado, 30 de abril de 2011

Crônica sobre escolhas (março 2005)

"Pare.
Escute uma canção, de preferência Legião, ou simplesmente se apaixone pelo som da voz rouca de Jim Morisson, ecoando da janela de seu vizinho
Leia.
Leia Graciliano, Sartre, Érico, pelo simples prazer de ler e se encontrar em meio àquele contexto histórico
Apaixone-se.
Apaixone-se somente para se apaixonar, por todas as coisas que você considera boas
Chore.
Chore por motivos tristes e motivos alegres. Chore pela partida de um grande amigo ou pelo nascimento de uma criança. Chore em sua colação de grau
Sorria.
Sorria a todo o momento e para todos
Curta.
Curta aquelas festinhas que rolam em repúblicas, curta uma paixão proibida, um porre bem tomado, curta seus últimos anos de faculdade
Dance.
Dance. Dançar faz bem a alma e ao corpo
Descubra.
Descubra novos métodos de estudo, novas bandas, novos amigos
Sinta.
Sinta saudade. Saudade boa, da família, dos amigos, da infância, do cachorro. Sinta falta daquilo que realmente é ou foi seu
Arrisque-se.
Arrisque-se, vá além de um beijo quando a química acontece
Ouça.
Ouça tudo e todos que quiser ouvir, mas guarde apenas aquilo que lhe tocar o coração. Ouça músicas que se pareçam com você. Ou seria você que se parece com as músicas?
Fale.
Fale. Exponha suas ideias, todavia sem machucar aos que lhe rodeiam
Estude.
Estude, afinal, estudar leva alguém a algum lugar
Creia.
Creia. Não dê importância a críticos que insistem em negar Deus. Eles não sabem o que é o amor
Ame.
Ame, pois o tempo não para
Ande..."

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um pouco sobre futebol...

Opa...hoje nos resta o futebol!
As finais dos estaduais estão aí a todo vapor... No Rio só dá o bonde do Mengão sem freio. Alguém aposta no Vasco como campeão carioca, já que o Fla ganhou o primeiro turno do campeonato? Uma vitória simples leva o rubro-negro ao título.
Em São Paulo a briga vai ser boa e bastante quente. Os quatro grandes se preparam para dois clássicos imprevisíveis: São Paulo x Santos , e a maior rivalidade paulista, Corinthians xPalmeiras. Eu arrisco aqui meu palpite para a final do Paulista (imparcial? Digamos que nem tanto...). Ao meu ver, São Paulo e Corinthians fazem a final. Sim, mesmo com o Valdívia jogando muito (mesmo provocando o Corinthians, sou fã daquele chileno! Joga muito, mas vai "chorar" na semi-final) e o Santos com Neymar e Ganso, Verdão e Peixe ficam pelo caminho.
Em Minas, tudo como previsto. A vitória, para lá de expressiva do Cruzeiro sobre o América de T.O. é impossível de ser revertida. 8x1 não dá América T.O., foi demais! E o Atlético-MG aplicou uma semi-goleada no outro América, o de B.H., 3x1 não é placar irreversível, todavia um pouco complicado. Em resumo, a final mineira será Cruzeiro x Atlético. Algum palpite? Eu acredito que Galo, o Cruzeiro está muito ocupado com a Libertadores.
 No Paraná já temos um campeão. Invicto! Parabéns ao Coritiba pelo título! Vinte e um jogos sem saber o que é derrota.
O Gaúcho também está na normalidade: Inter x Grêmio. O Tricolor venceu o primeiro turno. Resta ao Inter correr atrás do prejuízo, vencer o segundo e fazer a final.
Goianão...ninguém se interessa muito, mas... Ontem o Vila Nova perdeu para o Goiás, seu maior rival. Hoje o Atlético-GO faz o jogo da decisão. Sim, teremos Goiás x Atlético-GO na final goiana.
E a Liga dos Campeões? Tenho meu palpite (na verdade é mais torcida do que palpite), mas vou guardá-lo. Revelo depois do primeiro confronto. Contudo, será um grande jogo. Espetáculo certo.
É isso aí! Aguardemos todos esses confrontos. Prometem fortes emoções. E, se alguém tiver algum palpite, mande para nós, vamos debater sobre!

Ótima semana a todos!!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Transposição (maio 2009)

"O relógio na parede marca um tempo irreal, alheio ao que dizem meus olhos.
O retrato na parede não me desperta lembranças.
A sala, há tempos, já não é a mesma. A parede mudou de cor. O perfume evanesceu e perdeu seu aroma. A vida mudou de lugar.
Os sonhos mudam de intensidade ao sabor das lágrimas.
Os olhos refletidos no espelho negam a verdade da alma.
Não há mais tempo para subverter os papéis. Não há mais razão para ignorar a realidade.
A vida mudou de lugar."

Apreciem...

domingo, 17 de abril de 2011

Inferência

"Estou a ler Antoine de Saint-Exupéry e a chuva cai forte lá fora. Coloco o livro sobre o peito e sinto meu coração disparado, resultado de muitos dias de ansiedade. Acordei hoje com um barulho, para muitos, inexpressivo. Acordei com o barulho de um avião comercial, quase que sobrevoando meu jardim. Pronto. Perdi aí a calma (que já não me acompanha sempre) do dia.

Estou a ler Saint-Exupéry, mas não deveria. Deveria estar reelaborando um projeto para a pós-graduação, já que mudei de ideia no meio do caminho. Os pensamentos estão longe e se misturam. Tudo ao mesmo tempo e agora. Deus tem-me testado bastante nesses últimos dias: Ele tem-me provado que não posso controlar o tempo, que não posso controlar a vida. Ele tem-me dito, através de todos os acontecimentos, que o melhor a fazer é simplesmente viver. E confiar.

A chuva aperta. Nada posso fazer, senão, esperar. Saint-Exupéry me acompanha nessa espera. E faz com que eu me sinta bem. Fui transportada para a França. Estou na 2ª guerra. E vejo a França de cima para baixo. O olhar é heróico, e ao mesmo tempo, melancólico. A liberdade me consome num voo arriscado. É a França. E está na 2ª guerra.

Fecho o livro, fecho os olhos, ouço trovões, sinto o coração disparado, a respiração precipitada. Não, não quero pensar. Vou voltar para a França. E lá ficarei o tempo que precisar. Talvez amanhã eu acorde com o barulho de um avião comercial, quase que sobrevoando meu jardim. E tudo seguirá dentro do previsto."


É...como diz um amigo meu, os amores vão e as histórias ficam! Apreciem! E ótima semana...

sábado, 16 de abril de 2011

Pseudestesia

Por entre os cacos de uma garrafa tentava me equilibrar. O cheiro da fumaça começava a provocar ânsia em mim. Senti uma dor fina no pé, percebi que um caco conseguira vencer meu malabarismo. Peguei um guardanapo, tirei o caco e estanquei o filete de sangue. Saí com as sandálias em uma das mãos e na outra o guardanapo.

O ar fora da cafeteria era infinitamente mais respirável. Olhei para trás e senti vontade de voltar e ficar sentada lá dentro para sempre! Seria meu mundo... Segui em frente. A madrugada já ia alta.

Mais adiante deparei-me com alguns jovens que tocavam violão e cantavam, totalmente alheios ao mundo e aos problemas. Pareciam felizes, imersos em letras de protesto e acordes inventados. Quis parar e contemplá-los melhor, apreciar aquele momento, quem sabe até dividir algo?! Mas o vento gélido da madrugada me impediu.

Continuei minha caminhada solitária após uma noite solitária. Mais cinco minutos e estaria em casa. Antes, porém, parei em frente ao jardim da praça e lá continuava ela, intacta: a roseira! Pleno inverno e aquela roseira insistia em permanecer ali, linda! Parecia querer me provocar com toda aquela beleza inabalável!

Soltei uma gargalhada irônica ao pensar em arrancá-la. Que idéia, tolher a beleza alheia! Voltei a caminhar e cheguei em casa. A roseira ficara na praça. Comigo agora apenas minha casa. Peguei o celular que deixara em casa sobre a cama. Nenhuma ligação. Pensei em ligar para Jorge. Sentei na cama e olhei o relógio: três da manhã. Suspirei e conclui que não precisaria ligar para o Jorge, ele já estava presente em tudo, em cada canto do meu quarto.

Uma lágrima escorreu sobre minha face enquanto lavava os pés. O frio do mês de maio já começava a incomodar. E nada mais fazia sentido em minha vida desde que Jorge mudara o sentido de nosso relacionamento. Enxuguei os pés e vesti uma calça de moletom e uma camiseta. “Agora está tudo bem”, pensei. “Jorge está feliz e tenho que ficar também.”

Tentei ordenar os pensamentos para escrever uma crônica. Abri um vinho e lembrei-me da roseira. Esbocei algumas palavras sobre aquela roseira e gostei. Coloquei as anotações sobre a escrivaninha e deixei a garrafa de vinho pela metade. Decidi que não queria apagar as lembranças de Jorge. E de ninguém. Adormeci com o gosto do vinho e o perfume da rosa.

*

Fiz um café e reli a crônica que escrevi na madrugada. Algumas coisas ainda pareciam confusas. Todavia, a crônica era excelente! Decidi enviá-la para um amigo que poderia publicá-la, por que não? Enviei a crônica por e-mail e meia hora depois recebi a resposta inesperada: sim, publicariam minha crônica!

“Incrível! Tenho que ir à praça rever aquela roseira!”

Gargalhei e lembrei-me de toda a noite passada. A boemia solitária me fizera bem. Ou seria o vinho? Talvez a falta de Jorge?

Jorge! Liguei para ele antes de ir até a praça, mas ele não atendeu. Me senti novamente pequena e sozinha. Não podia mais dividir meus dias com ele. Nem minhas alegrias.

“Vou à praça.”

O dia estava frio. Vesti um casaco e saí. Algumas crianças brincavam no parquinho perto da praça. Parei e lembrei que não sabia onde estava a roseira. Andei por toda a praça e não a encontrei.

“Como? Onde está? Ela está sempre aqui me desafiando, tão linda, tão inabalável! Onde está?”

Pensei que as crianças poderiam tê-la quebrado. Que idéia tola!

“Errei de praça? Não, não, é aqui, tenho certeza!”

O jardineiro aparava a grama ao lado do parquinho. Uma ponta de dor transpassou meu coração.

“Ele cortou a roseira!” , pensei.

Perguntei a ele sobre a roseira, expliquei todos os detalhes.

“Era a única que ainda florescia, tão bonita! Rosas vermelhas, um vermelho intenso! O único problema era o excesso de espinhos, uma vez quis pegar uma rosa, mas fui impedida pelos espinhos, furei dois dedos! O senhor a podou?”

O jardineiro me olhou como se não tivesse entendido. Repeti a pergunta:

“O senhor a podou hoje? Passei aqui de madrugada e ela estava aqui. Até escrevi uma crônica sobre esta roseira! Tenho de vê-la novamente...”

“Senhora”, o jardineiro começou, “nunca tivemos roseiras por aqui. Trabalho nesta praça há mais de dez anos e nunca vi esta roseira. A senhora deve estar confundindo as praças!”

Senti o chão se abrir aos meus pés.

“Como?”

Refiz mentalmente o caminho da madrugada. Olhei para trás e vi a cafeteria. Sim, é essa a praça!

Sentei para me acalmar. Vi no chão o guardanapo com meu sangue. Meu celular tocou. Era Jorge. Estava tão atordoada que quase não atendi. Levantei para atender e quando olhei para frente lá estava ela, com seu vermelho intenso e seus espinhos, intacta: a roseira!


Galeraa...primeiro texto, primeiro conto! Espero que apreciem...