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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Agora (outubro 2011)

"A vida é agora. Nada mais me interessa senão vivê-la intensamente. Não quero chegar à velhice com fama de ranzinza. Quero exalar um bom perfume. E ecoar meu melhor sorriso. Cantar sem saber a letra aquele rock progressivo. Beber sem culpa aquela cerveja. Rezar baixinho todos os dias. Prostrar diante Dele em muitos momentos. Chorar ouvindo Adele. Sonhar com a sua voz bem aqui. Ganhar um beijo seu de surpresa. Dividir a felicidade com quem realmente importa.Ver meus pais evelhecendo alegrememente. Correr loucamente com meu cachorro. Caminhar por aí achando que sou invisível. Dançar a noite toda sem medo de doer os pés. Acordar cedo e ver o nascer do sol. Sentar na praia e ver o por do sol. Admitir meus erros. Aprender todos os dias. E tudo isso, quero fazer agora, porque é o único tempo que tenho."

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Abcisão (julho 2006)

Há sangue em meus pulsos agora. Resultado de cortes provocados por mim mesmo.
A dor é fina. Tento não pensar em mais nada. Apenas na dor.
Inconscientemente penso em tudo. Demoro em distinguir meus pensamentos.
Outra vez afasto aquilo que não me agrada pensar. É mais forte do que eu. Tenho que fazer um corte mais profundo.
Inútil. Apenas mais sangue.
Mergulho na escuridão do quarto. Uma onda de pânico me toma de assalto.
Enlouqueci?
Não.
Acendo a luz. Procuro os cortes. Agora a dor assemelha-se a de uma queimadura.
A caixa proibida. Vejo a caixa proibida.
Não. Hoje não.
Apago a luz. Deito na cama.
A paz. Sim, a paz.
Uma lágrima cai. Meus olhos se fecham. Amanhã não haverá mais sangue. Apenas cortes.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Breve o dia - Ricardo Reis

"Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Legião Urbana, Monte Castelo

"Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer.É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade. É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrario a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem. Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria"

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Alberto Caeiro (in Fernando Pessoa)

"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O analfabeto político...

Praça Getúlio Vargas, Araguari-MG
O Analfabeto Político (Berthold Brecht)
 

"O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais."

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Legião Urbana, Metal contra as nuvens...

Metal Contra As Nuvens (Legião Urbana)

"Não sou escravo de ninguém
Ninguém é senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais
Eu sou metal
Raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal
Eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal
Sabe-me o sopro do dragão
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra
Tem a lua, tem estrelas
E sempre terá
Quase acreditei na tua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo.
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.
Olha o sopro do dragão
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destroi
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal - raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal: eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então
Tudo passa
Tudo passará
E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora, ahh!
Apenas começamos."

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Luz (outubro 2008)

E então fez-se  o silêncio na noite escura, tardia.
Sobre a escrivaninha as mesmas lembranças em desordem, corroendo a memória e inquietando a vida.
Um olhar atento e nada mais. Um olhar. O olhar. Único. Captando coisas que só a ela interessavam. Só a ela faziam sentido. Nem adiantaria explicar, ninguém entenderia. Coisas tão subjetivas quanto um texto escrito às pressas sob a penumbra.
Uma fresta de luz quebra a escuridão da noite. Daqui a pouco, quebrará também o silêncio e invadirá a vida sem pedir licença.
Ela era aquele pouco de luz. Apenas não sabia quando quebraria toda a escuridão e invadiria a vida. Sem pedir licença.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Rascunho (dezembro 2011)

Desde então a calmaria, o riso solto, o dia leve.

O toque (in) tenso, o beijo doce, o som claro.

O risco firme, o rabisco coerente, o olhar iluminado.


Desde então, os passos oblíquos, a respiração precipitada, o encontro inesperado.

O pensamento confuso, a ideia difusa, o cheiro inexplicável.

A vontade idealizada, o aprendizado diário, a busca interrompida.


Desde então, a beleza controversa, o sentimento em um verso, a teoria inversa.

A noite acordada, a TV desligada, o sono perdido.

O café frio, o copo quebrado, a coordenação falha.


Desde então, a alegria exposta, a dor morta, a paixão silenciosa.

O rosto decorado, a conversa sem pressa, a notícia inventada.

O dia leve. A noite acordada. A madrugada sonhada.