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domingo, 28 de outubro de 2012

Reflexo (outubro 2012)



 

Enquanto ainda não esperava, ela chegou. Antecipou-se em uma semana. Olhei no espelho e gostei da moça. Não diria bonita, mas tinha lá certo encanto. O dia que queria, arrumava-se bem. Maquiagem era o vício maior. A altura não permitia passear em todos os cantos da moda, porém ela se virava. Afinal, a altura (ou a falta dela) era seu ponto forte.

Ela chegou. Notei-a diferente. Era uma jovem mulher. Quase trinta? Ah, não diga! Passa fácil por vinte, declarei. Ela me disse que se sentia bem assim. Não ligava para tanta coisa que insistiam em questionar-lhe. Era a tal da maturidade. E era uma maturidade livre. Não tinha preço.

Percebi também que ela assumira de vez seu gosto por tudo que é diferente. Ela sentia-se atraída pelo desconhecido. “Quer me conquistar? Surpreenda-me com coisas que não conheço. Desperte a minha curiosidade. Mantenha-me entretida!” Ela sempre ressaltava. Lia mais, bebia mais, filosofava mais. Pensava mais. Entre um uma ideia solta e outra, êxtase!

Todavia, o preço dessa liberdade existencialista-sartreana era alto: estava quase sempre rodeada pela solidão. Seus bons playlists e seus livros a acompanhavam. Amigos para conversar sobre, quase nunca. Era tão difícil assim ser diferente?

- Não sou diferente, brincou. - gosto de coisas que nem todo mundo gosta. Difícil é me encaixar nesse mundo aí, cheio de coisas iguais. Às vezes, só querem repetir uns aos outros. Esquecem de pensar.

Ri da sua altivez. Quem a visse assim, com esse discurso apaixonado logo a julgaria forte, com um ar autoritário. Todavia, era só uma menina “romântica” de quase trinta.

Convidei-a para um café e ela sorriu ironicamente: - Ora, terei tal honra? – provocou-me. Claro, respondi sem convicção diante de tanta força desmedida em seus gestos e palavras.

Ela caminhava e descobria a rua, os cheiros, as cores, a vida. – Não tem nada melhor do que observar as pessoas na rua! Quantas histórias a gente olha sem ver! Nossa... E as cores de uma cidade? Cada hora do dia tem uma tonalidade diferente, já observou? – ela me perguntou muito interessada em minha resposta. Eu disse que não, meio envergonhado. – pois deveria, retrucou ela. Não há nada mais belo do que observar e aprender. Imaginar todas as possibilidades diante de nós e fazer delas realidade de alguma forma.

Fiquei paralisado. Eu a conhecia há tanto tempo e nunca a vira assim, tão filósofa, tão poética, tão segura.

- Que nada, tudo isso ainda é aquela velha pose, só que agora aprendi a fazer tudo direitinho, com mais segurança. E soltou uma gargalhada. – Eu ainda tenho sonhos bobos, que transformei em liberdade. E são somente meus. Eu ainda escrevo bobagens pensando em publicá-las, mostro aos amigos, escrevo sobre eles. Deixei de lado apenas as ilusões. Sou mais dura comigo e com os outros, mesmo que custe uma puta dor de estômago ou uma noite de insônia. Piscou o olho direito e sentou-se em uma mesa que dava para a rua. – vamos saborear um café. Depois te pago uma boa cerveja. As coisas boas da vida precisam ser celebradas! Levantou os braços e inclinou a cabeça para trás.

Apenas concordei. Como é que se discorda de alguém assim? Que a noite comece com uma boa cerveja e uma boa companhia.

domingo, 14 de outubro de 2012

Mario Vargas Llosa

Depois de muito tempo sem a tag "Autores e obras", me vi "obrigada" a "divulgar" esse camarada peruano. Conhecia não, confesso. Me senti um ser inferior quando informada por um grande amigo que o tal escritor ganhara o Nobel de Literatura em 2010. Pesquisei. Queria saber, ué! Encantei-me! Queria ler o livro que meu amigo comprara. Atormentei tanto o citado grande amigo que ele não teve outra alternativa, senão me emprestar o livro. E claro, com meu feeling "artístico-libriano" apurado, eu acertara: um gênio! Mario Vargas Llosa honra o Nobel de Literatura que ganhou. Confiram! Oh sim, o nome do livro que encantou-me? Travessuras da menina má, sugestivo, não?


Mario Vargas Llosa


Sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo o escritor, no Peru e na América Latina. Seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A princípio, assim como vários outros intelectuais de sua geração, Vargas Llosa sofreu a influência do existencialismo de Jean Paul Sartre.

Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador"(1977). Por A cidade e os cachorros recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Sua obra seguinte, A Casa Verde mostra a influência de William Faulkner. O romance narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro. Seu terceiro romance, Conversa na Catedral publicado em quatro volumes e que o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950.
No ano de 2006 Llosa publicou o livro “Cartas a um jovem escritor”, a obra não literária é uma espécie de guia para jovens escritores, mas não se trata de um livro sobre as técnicas desse ofício, mas sim as técnicas do romance. Em uma série de capítulos escritos como se fossem cartas a um jovem ávido por conhecimento da profissão, Llosa discorre sobre o que é imprescindível a criação de um livro. O autor começa afirmando que todas as histórias se alimentam da vida de seu criador, como um “Catoblepas”, que devora a si mesmo, criatura que aparece no livro de Flaubert. Llosa menciona outras obras durante todo o livro. Aborda também o estilo, que deve ser coerente com a história contada, e fazer o leitor viver a obra sem notar que está lendo.
Em 7 de outubro de 2010 foi agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura pela Academia Sueca de Ciências "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual". O presidente do Peru na época, Alan García, considerou o prêmio a Llosa como "um reconhecimento a um peruano universal".

Obras:
  • Os Chefes (1959)

  • A cidade e os cachorros (Brasil) // A Cidade e os Cães (Portugal) ("La ciudad y los perros") (1963)

  • A Casa Verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos)

  • Os Filhotes (1967)

  • Conversa na catedral (Brasil) // Conversa n'A Catedral (Portugal) (1969)

  • Pantaleão e as visitadoras (1973)

  • Tia Júlia e o escrevinhador (Brasil) // A Tia Júlia e o Escrevedor (Portugal) (1977)

  • A Guerra do Fim do Mundo (1981)

  • Historia de Mayta (1984)

  • Quem matou Palomino Molero? (1986)

  • O falador (1987)

  • Elogio da madrasta (1988)

  • Lituma nos Andes (1993). Premio Planeta

  • Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)

  • A festa do bode (Brasil) // A Festa do Chibo (Portugal) (2000)

  • O Paraíso na Outra Esquina (2003)

  • Travessuras da Menina Má (2006)

  • O Sonho do Celta (2010) 

  • A menina de Tacna (1981)

  • Kathie e o hipopótamo (1983)

  • La Chunga (1986)

  • El loco de los balcones (1993)

  • Olhos bonitos, quadros feios(1996)

  • García Márquez: historia de un deicidio (1971)

  • Historia secreta de una novela (1971)

  • La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)

  • Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983)

  • Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986)

  • La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)

  • Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)

  • Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)

  • Desafíos a la libertad (1994)

  • La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)

  • Cartas a un novelista (1997)

  • El lenguaje de la pasión (2001)

  • La tentación de lo imposible (2004)

  • Sabres e Utopias (2009)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sobre você (outubro 2012)


Então você veio. E quem disse que eu queria? Queria não.
- É amor? – questionaram-me. - Sei não, se não for, vai ser dos melhores amigos que alguém pode ter, respondi.
E eu continuava não querendo. Era diferente. Queria não. Que afinidade besta, meu Deus! Nunca vi nada parecido.
Não tive como fugir. Você veio, entrou na minha vida tão pequena e fez a revolução. O início foi inusitado. E eu sucumbi em meio a tanta expectativa. Porém, as coisas mudaram tanto! Se eu achei ruim tanta mudança? Achei não. Assim é que é bom. É dos melhores amigos que uma pessoa pode ter.
É tão bom que chega a ser surreal. Já lhe disseram isso? É assim para todo mundo, eu sei. É que aqui é diferente. Alegra tanto, tanto meu dia! Colore tanto, tanto meu sorriso. É amor? Sei não. Sei sim. É sim. Mas é diferente demais para explicar. É aquele amor de querer bem. De fazer bem. Não é de ficar junto não. É melhor. É de verdade.
Mesmo sem a presença física todo dia. Se eu tô na lista de “best friends”? Ah, penso que não, hein? Mas, eu não me importo não. É dos melhores amigos que uma pessoa pode ter. Aquela tal afinidade besta.
É tanta coisa boa. Risada espontânea. Livro bom. Música boa. Conversa boa.
Se eu queria conviver mais? Ah não, do jeito que tá é que tá bom!
Eu queria fazer um poema daqueles, sabe? Uma ode talvez, mas não deu não. Isso é coisa de amor romântico. Não cabe aqui.
Tô confundindo não. É só meu jeito de dizer que gosto muito de você. Oxalá seja longa essa parceria.
Quero mais que isso não. Só compartilhar ideias. Sorrisos bobos. Segredos divididos. Sei não, cabe um pouquinho de mim aí?
É daquelas pessoas diferentes, sabe? Que todo mundo deveria conhecer.
Queria não. Ainda bem, eu mudei de ideia. Foi a tal afinidade. Dá pra ignorar não.
Sei não. Cabe um pouquinho de mim aí? Aqui cabe um montão de você. É diferente. Eu tô falando é de verdade.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Palavras (outubro 2012)



Hoje eu tive que escrever, para calar essa vontade de gritar a sua importância em minha vida. Tive que inventar versos, buscar poesia. Explicar para esse coração bobo que você vive em mim de uma forma tão diferente do convencional que não dá mesmo para explicar.

Revirei os livros. Desfiz os playlists. Observei outras cores. E seu rosto lá, em todas as possibilidades.

Rezei para não querer-te. Pedi que tudo fosse diferente. Se ao menos você imaginasse...

Perguntaram pelo meu amor, pensei em você.

Diante de tanto, tive que matar toda essa vontade de me fazer bem. É tão estranho, é tão perfeito. E nunca será o que um dia foi... Tão pequeno e tão verdadeiro.

Apelei então. Recorri às palavras. Elas me ajudam às vezes. Colocam as coisas para funcionar. Falam-me, leves, o que eu preciso saber. Suaves, elas gritaram. Palavras. Fale, ordenaram-me! E de novo, calei-me dizendo besteiras.

Assim tudo parece perfeito! E, se ele pensar da mesma forma?

Que a vida se encarregue de colocar-nos sempre no mesmo caminho então. Porque eu pretendo escrever, toda vez que sentir essa vontade de gritar a sua importância em minha vida.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Identidade (agosto 2012)


Definitivamente, muda.

Silenciada pela rotina.

Esquecida em um canto qualquer

da vida.

 

Rigorosamente, distanciada.

Apartada pelos sonhos.

Dividida em partes tão pequenas

quase invisíveis.

 

Apaixonadamente, irônica.

Extasiada pelo novo.

Entusiasmada com aquilo que está sempre

um passo à frente.

 

Obrigatoriamente, presa.

Desfigurada pelo rosto blasé.

Apagada pelo cinza de um por do sol preso em

alguma lembrança.

 

Desesperadamente, sem identidade.