Como companheiros: um relógio, um celular e um computador. E
um quarto frio e cinza em um dia qualquer de abril. Lá fora grita o rock, mas
ela preferiu seu silêncio barulhento. Não quis encarar o mundo sozinha mais uma
vez.
As ideias pulam e nunca consegue organizá-las. Misturam-se a
sorrisos e lágrimas que encontrou na gaveta. Por que não jogou fora tudo isso?
Alguns livros, cadernos, fotos, anotações. A vida mesmo. Paralela
ao universo. Paralela a tudo que corre agora. Era sobre amores e amigos. Nunca separou
os dois. Ora, não é tudo a mesma coisa no fim das contas? Não se tratam os dois
de amor? Por que o amor não é a mais bela desordem?
Chocolate, vinho e aquela boa cerveja. Blues, a trilha
sonora daquele bom filme e Pearl Jam. Melhor jogar tudo isso fora, antes que
alguém resolva aparecer para buscar.
Não acreditou em tudo que leu e nunca disse. Não acreditou
que a vida passou tão rápida e ela não acompanhou as mudanças. Não acreditou
que tudo aquilo ainda tivesse importância.
Separou tudo. Ainda não era tempo de se desfazer do universo
paralelo. Organizou as coisas, nunca as ideias, e guardou um espaço para o que
estava por vir.
O barulho do relógio. O celular sem nenhuma chamada. O computador
desligado. E o quarto frio em um dia qualquer de abril. Lá fora, grita o
rock...