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sexta-feira, 9 de março de 2012

O nobel de literatura: José Saramago

Apresento-lhes hoje o Gênio da Literatura e prêmio Nobel, o escritor português José Saramago...

"José de Sousa Saramago nasceu em 1922, em Azinhaga, aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses.
Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção numa editora.
Iniciou sua atividade literária em 1947, com o romance Terra do Pecado, só voltando a publicar (um livro de poemas) em 1966.
Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em 1975, tornou-se diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Acuado pela ditadura de Salazar, a partir de 1976 passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.
Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, visto hoje como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois.
Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português - o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde viveu até a morte. Foi ele o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.
Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).
Morreu em 18 de junho de 2010, em Lanzarote, Espanha."


  •   A Notícia do Nobel  (pelo livro "O evangelho segundo Jesus Cristo")
    "Estava no aeroporto prestes a embarcar quando chegou a notícia de que tinha ganho o Prémio Nobel. Houve um momento de alegria, os meus editores de Madrid, que estavam comigo, abraçaram-me. Depois encaminhei-me na direcção da saída e, a direcção da saída, por muito estranho que pareça, era um corredor muito comprido. O corredor estava deserto e eram pelo menos cinquenta metros de corredor deserto. Eu com a minha malinha de mão, com a minha gabardina no braço, passei de repente da alegria enormíssima da notícia que tinha recebido, para a solidão mais completa. Naquele momento a sensação que tive, claro que eu dava por mim numa grande alegria, era uma espécie de serenidade: pronto aconteceu."
    In Público, A bagagem do viajante, 9 de Outubro, 1998

    • Reações
      1. "José Saramago é uma alma inquieta, de quem espero ainda mais na sua caminhada em busca da verdade. Estou contente, mas preferia que o distinguido tivesse sido Miguel Torga. Nunca li qualquer livro de Saramago, mas fiquei chocado com a forma como tratou a religião católica em ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo". É um problema sério de José Saramago. Mas registei com agrado uma expressão recentemente proferida por Saramago, quando afirmou que gostaria de ter fé."
                   (D. António Rafael, bispo de Bragança - 1998)

         2. "Não fiquei surpreendido. Obviamente José Saramago é um vencedor, criou o seu  público, uma imagem, enfim, é um homem de vitória, portanto tem que ter mérito. E depois tem também um bom ‘lobby’, não brinquemos na forma. Viu-se no episódio de que eu fui protagonista o que foi o ‘lobby’ poderoso de José Saramago, em termos internacionais. Mesmo os jornais de direita de vários países do mundo que têm páginas literárias fizeram campanha por ele. Não revejo a minha posição em relação a ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’. Mas, como cidadão, educado no tempo em que se cultiva o patriotismo, regozijo-me por um português e Portugal terem recebido o Prémio Nobel."
      (António Sousa Lara, antigo subsecretário de Estado da Cultura)

      3. Recebi a notícia quase incrédula. Estou muito emocionada. Mas a verdade é que a gente acaba sempre por pensar ‘talvez este ano venha a acontecer’. Mas pela primeira vez este ano passou-me completamente a data do Nobel da Literatura, embora soubesse que ele era efectivamente mais uma vez candidato. Também acho que era tempo de a literatura portuguesa ser reconhecida, porque temos efectivamente muito bons escritores – temos e tivemos – e já fazia falta um Nobel para a língua portuguesa. E fico muito feliz por ter sido ele o escolhido."
      (Violante Saramago Matos, filha de José Saramago, vereadora do PS na Câmara do Funchal) 

      •  O Discurso de Saramago no Palácio Real de Estocolmo 
       "Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais. Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.  Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."  José Saramago, Estocolmo, 10 de Dezembro 1998    


      • Obras: (romances)


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