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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Lis (fevereiro 2012)


No smartphone, Nando Reis. A hora mais elegante do dia se aproximando. E ela, deitada na grama, com um lírio ao lado, observando, pensando, suspirando, arquitetando. A imagem ainda tão nítida na memória. Uma lágrima escapou-lhe. Se ficasse quieta, bem em silêncio, seria capaz de sentir aquela última respiração.
Ela não se importou em adiar o momento. Era tão necessário agora! Tantos planos que nem cabiam na memória. Ela não se importou em sentir sozinha aquela dor. Era passageira. Não contaria para mais ninguém suas dores. Tampouco as alegrias! Ela não se importou em descobrir que não significava mais nada naquele contexto. Ora, ela nunca significou mesmo! Sorrisos e palavras falsas, fadadas ao fracasso. Ela não se importou em esperar.
O sol cada vez mais baixo e as ideias surgindo. Ela quis gritar. Será que ele escutaria? O cheiro da grama recém cortada, misturado ao cheiro das lembranças. Sensação inexplicável de paz. Ele talvez nunca entenda. Eles talvez nunca se entendam.
A calmaria, o dia leve. A busca interrompida. Os monólogos. Os diálogos. Perdidos num banco de praça qualquer. Guardados com tanta ênfase, que jamais sairão dela. O toque (in) tenso. O beijo doce. Estão aqui. E não há como negar. Sempre estarão. A angústia. A espera. A certeza.
E mais uma vez o sol se foi. E não levou as dores do momento. Nem as alegrias passadas. Intensificou-as. Ela não quis abrir os olhos. E sentiu no ar o aroma leve e doce do lírio branco. No smartphone, Nando Reis. Ela aumentou o volume e cantou alto a última frase da canção: “Sorria e saiba o que eu sei: eu te amo.”

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