Ela olhou-se fixamente no espelho. Olhos verdes, traços
levemente infantis. Disso estava cansada de saber.
Sentou-se no chão do quarto, ao lado da cama. Desejos
insondáveis rodeavam-lhe a mente.
Deixou o estojo de maquiagem sobre a cama e procurou algo que,
para o momento, não seria de muita utilidade.
Xingou. Como não
seria de muita utilidade? Era perfeito para a ocasião. Procurava o dicionário.
Adjetivos... Ela queria encontrar adjetivos para melhor
definí-la.
Pegou o dicionário e abriu aleatoriamente.
Começou a escolher os que mais pareciam consigo. Percebeu
que tentava moldar a si própria.
Parou.
Naquela altura ainda não tinha personalidade formada?
Não, não era bem isso. Gostaria apenas de descobrir-se.
Continuou.
Começou a ler os adjetivos em voz alta: discreta, alegre,
tímida, sonhadora, inteligente (?).
Conteve-se quando descobriu que era covarde, que tinha medo.
Quis chorar, mas arriscou-se a ir mais longe. Era preciso.
Desafiadora, louca (?), autoritária (?).
Abriu um largo sorriso quando pronunciou a palavra
hipócrita. Isso não era mesmo!
Também sorriu quando lembrou que errava muito. Contudo,
sempre assumia os erros.
Fechou o dicionário. Estava mais alegre.
Levantou-se, pegou um cd de reggae e sentiu as vibrações
positivas.
Terminou de se maquiar ao som da Jamaica. Descobriu que era
ser pensante. Gargalhou. Uma onda de confiança invadiu-a.
Descobriu que não queria descobrir-se. Queria viver aquilo
que acreditava.
Saiu. Não iria pensar em mais nada naquela noite. Apenas na música
eletrônica ecoando por toda a boate.
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