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segunda-feira, 9 de maio de 2011

O telefone (dezembro 2009)


"O tilintar do telefone acordou Maria Júlia. Sentia o coração disparado, a boca seca e até certa falta de ar. Acendeu a luz do quarto e correu para a sala. Tropeçou em uma cadeira que estava no corredor. Uma lágrima de dor escapou-lhe. Ao chegar ao telefone a pessoa do outro lado já desistira. O telefone parou de tocar. Ainda em um suspiro de esperança tirou o fone do gancho. Ouvia-se apenas o tom de linha.
- Que droga! – exclamou, em um misto de raiva e tristeza.
Olhou para o relógio. 01h30min, a madrugada já começava a mostrar-se. Pegou uma coberta e encolheu-se no sofá. Sentiu os pés esfriarem.
- Seria ele? – Maria Júlia perguntou-se. Os olhos iluminaram-se. – Mas, a 01h30min da manhã? Por quê?
Maju, como era chamada desde a infância, era uma jovem mulher de 27 anos. Trabalhava como editora de uma revista sobre política e não se sentia mal por isso. Todavia, sonhava mais alto. Queria publicar seu livro, tornar-se uma escritora reconhecida. Morava sozinha em um pequeno apartamento alugado. E há um ano insistia num romance que lhe consumia a tranqüilidade.
Prostrada no sofá, Maju sentiu uma enorme vontade de gritar para aliviar a angústia daquele momento. Aterroriza-se com muitos pensamentos:
- Que espécie de namorado é esse? Ele me esqueceu aqui sozinha, simplesmente me esqueceu!
Embaraçada com as lágrimas, que vinham junto com os pensamentos aterrorizantes, lembrou-se do celular desligado e esquecido sobre a escrivaninha. Deu um pulo.
- Será que ele tentou ligar no celular? – animou-se, mas logo se puniu.
-Deixe de ser burra Maju, não era ele! Com certeza era engano, alguém querendo uma pizza, como se aqui fosse uma pizzaria! Bem poderia ser, ah poderia!
Maju resistia em ir até o quarto, pegar o celular e ligá-lo. Só de pensar em tal hipótese o coração disparava, a boca ficava seca e sentia vontade de vomitar.
- E se não tiver nenhuma ligação dele? Não vou ligar o celular, não vou. Ligo pela manhã, é isso. Mas vou sofrer até amanhã? Melhor saber agora... Não, não vou ligar.
Levantou-se do sofá e começou a caminhar pela pequena, contudo aconchegante sala. Ela ainda trajava o vestido preto, muito elegante e um tanto sexy, o qual esperava provocar suspiros no namorado. E também tinha o rosto maquiado, uma maquiagem suave. Os olhos estavam vermelhos e inchados por conta do choro.
Maria Júlia desligara o celular após ligar insistentemente para o namorado. E fora ignorada. Depois de meia-hora, ele desligara o celular. Então, ela caíra em um pranto sufocante, uma dor lancinante. Chorou ininterruptamente durante uma hora. Desfaleceu tão cansada que estava. Acordou com o telefone tocando na sala.
- Não posso mais suportar isso! Por que me presto a esse papel? Mas, ele me é tão importante...
A visão ficou turva. Pensou que fosse desmaiar.
- Pra quê tanta angústia, meu Deus?
Deitou-se novamente. Pegou a coberta e encolheu-se no sofá. Olhou para o relógio. Uma hora já se passara naquele tormento sem fim. Maju quis levantar-se e ir até a cozinha preparar um café. Porém, viu-se invadida por um sono tão súbito que lhe desapareceram as forças.
- Quem teria me ligado? – foi a última coisa que pensou antes de cair num sono profundo.


- Alô? – Maju atendeu ao telefone sem saber o que estava fazendo ou falando. O coração estava a ponto de explodir. – Alô? – disse mais uma vez. Deixou o telefone cair. Os primeiros raios de sol iluminavam a sala e davam um aspecto tranqüilo para aquele despertar. Tranquilidade que contrastava com o aspecto sombrio de Maju.
- Alô?- disse outra vez enquanto pegava o telefone.
Ninguém respondeu. Apenas o silêncio.
- Quem é?
Desligaram. Maju caiu em prantos. E o dia estava apenas começando."

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